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A economia do caminho mais longo


Na semana passada, eu escrevi sobre como empresas como Instagram e Facebook estão investindo abertamente numa dinâmica de entretenimento. Entreter, mais do que conectar, é a aposta. Isso quer dizer que hoje esses aplicativos disputam a sua atenção com atividades e serviços que, até há algum tempo, estavam em prateleiras diferentes, como ler um livro físico ou ouvir um podcast no Spotify.

Um dos problemas óbvios dessa relação é que mais horas rolando a sua tela para cima significam menos páginas lidas, episódios escutados ou mesmo tempo com a família. Além disso, poucas tecnologias modernas rivalizam com a engenhosidade das redes neurais que alimentam o seu feed. Quanto mais tempo você der a elas, maiores as chances de voltar por lá.

Como tentar balancear essa equação então? Uma das alternativas envolve escolher o caminho mais longo.

Desde 2020, eu uso uma ferramenta gratuita chamada News Feed Eradicator. A proposta é simples, mas eficaz: remover o feed da sua tela até segunda ordem.



Você ainda tem acesso a notificações e mensagens privadas normalmente, mas sem ser arremessado no feed de cara. Sem anúncios, posts patrocinados ou vídeos recomendados. Apenas alguns botões e, se preferir, frases na tela. Caso precise visualizar o feed novamente, basta habilitá-lo pelo tempo necessário. Ou seja, nada de rolar a tela até "perder a noção da hora". A ferramenta cuida disso para você.



O recurso é uma extensão para navegadores e, até o momento, não funciona em aplicativos mobile. Aqui, alguém pode questionar: "mas quem usa redes sociais fora do celular?". Eu uso – e recomendo que, sempre que possível, você também.

A razão é intuitiva: quanto maior o esforço para que uma pessoa se comporte de uma forma, menor a probabilidade de ela se comportar daquele jeito. Na literatura científica, esse fenômeno é abordado de diferentes maneiras, mas remete a conceitos que dialogam entre si até certo ponto, como nudge e custo de resposta. No nosso caso, o princípio é o mesmo: ao deletar os aplicativos do celular e acessar as redes pelo navegador com o feed desabilitado, você aumenta o esforço para usar as plataformas e, consequentemente, diminui a probabilidade de se perder por lá.

Na minha experiência, a versão menos user friendly e portátil das redes sociais tem sido um adversário à altura da engenharia sofisticada dos aplicativos. E quando eu preciso usar um deles no celular, baixo o aplicativo outra vez, entro na minha conta e o deleto após finalizar. "O esforço realmente vale a pena?" é a pergunta que sempre me vem à cabeça antes de seguir esse passo a passo – e na maioria das vezes, a resposta é não.

Apostar no caminho mais longo pode ser o atalho para mais prazos cumpridos, livros lidos e tempo com a família ao final do mês.

Comentários

  1. Nem sabia que isso existia. Que show!

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  2. Por segurança eu coloquei senha para acessar alguns aplicativos... às vezes a gente clica no automático, na hora de digitar a senha eu paro e penso se realmente quero abrir aquele app e isso já me ajudou um pouco a diminuir a frequência do uso! Instagram e tik tok consomem muito nosso tempo!

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  3. Sair do instagram para vir aqui é um esforço que realmente vale a pena! Tô aguardando mais dicas de produtividade e deepwork!

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  4. Andressa Simoes11 julho, 2022 16:17

    Só de pensar em excluir e add de novo dá uma preguiça haha
    Mas eu que amo ler, troco fácil meu celular por um livro.

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  5. Thaís Brandão11 julho, 2022 18:30

    Não sabia que essa ferramenta existia, mas achei a ideia genial. De fato o rolar do feed te prende e o tempo passa sem perceber. Uma época já exclui o App do Instagram do celular e de fato me fez controlar o uso e ser mais produtiva. Essa ideia de ir pelo caminho mais longo é bem interessante. Existem também recursos no celular de controle do tempo que podem ser acionados pra te alertar do tempo do uso de determinado App, que pode ser mais uma estratégia

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  6. Bastante interessante essa forma de se desvencilhar dessas “armadilhas” de tempo. Ela requer, inclusive, que sejamos mais disciplinados e comprometidos com esse afastamento.

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