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Benchmarking

No meu texto “Meta-aprendizagem”, eu escrevi sobre a importância de investir o seu tempo na preparação de cada etapa do processo de aprender. Avareza não é bem-vinda. Horas, dias ou mesmo semanas gastas na triagem de materiais didáticos calibrados ou no planejamento de cronogramas eficientes podem render dividendos valiosos em alguns meses.

Descobrir por onde começar essa preparação, porém, pode ser desafiador. O século é o XXI, então não faltam livros, cursos e plataformas dedicados a lhe ensinar praticamente qualquer coisa. Num primeiro momento, navegar no meio de tantos recursos pode ser animador, mas identificar os mais adequados para os seus objetivos pode se transformar numa tarefa exaustiva e, após reviews ou sugestões em sentidos opostos, até frustrante.

Você não precisa tatear no escuro, entretanto. Para auxiliar nessa jornada, Scott Young recomenda o método do benchmarking.

Em seu livro Ultralearning, o autor do MIT Challenge (sobre o qual também escrevi recentemente) explica que o método consiste em pesquisar como as suas referências em determinada área – ou seja, indivíduos ou grupos profissionais com educação formal – trilharam aquele caminho antes de você. Por exemplo, se você está interessado em algo ensinado em universidades, comparar as ementas de cursos introdutórios de instituições renomadas pode ser uma forma de identificar a bibliografia mais adequada para iniciantes. Já se o seu objetivo for desenvolver habilidades complexas que estão em alta num nicho extremamente competitivo, investigar o currículo de profissionais que sejam “estrelas em ascensão” no campo pode ser uma maneira de apostar as suas fichas no que realmente importa.

Na minha experiência, o benchmarking tem rendido dividendos generosos. No mês passado, por exemplo, iniciei um projeto pessoal que apelidei de “neurogaps”. Para os menos familiarizados com o tema, a neurociência é uma área essencialmente interdisciplinar. É comum que disciplinas como a biologia, química e física se mesclem num mesmo tópico, por mais simples que ele seja. Por isso, diagnosticar as lacunas de uma formação enviesada (como foi a minha) e preenchê-las é crucial para quem deseja pesquisar na área.

O meu primeiro passo foi coletar ementas nos sites dos melhores departamentos de psicologia cognitiva e neurociência dos EUA – as minhas referências. Após compará-las minunciosamente, notei que um dos livros listados se repetia na maioria delas. Como sabia que apostar somente em manuais técnicos seria uma estratégia precária de memorização, resolvi procurar outras fontes de informação também. No caso, cursos online gratuitos oferecidos pelos mesmos departamentos em duas das maiores plataformas educacionais do mundo, edX e Coursera. Encontrei quase duas dezenas de cursos, mas dois deles me chamaram a atenção. Ambos contavam com ementas compatíveis com os meus objetivos, recursos audiovisuais de alta qualidade e exercícios de fixação em abundância. Portanto, inscrevi-me neles. Ao todo, levei cinco dias para finalizar esse passo-a-passo, incluindo a elaboração de um cronograma de atividades tão instigante quanto plausível.

Após me sentir seguro com a preparação, finalmente mergulhei de cabeça na execução do projeto. Depois de 11 dias, os resultados foram estes: cerca de 450 páginas lidas, 40 horas de aulas online assistidas e 300 exercícios resolvidos. Na minha estimativa, cobri algo entre quatro e seis meses letivos de conteúdo em menos de duas semanas. Graças aos cinco dias de benchmarking, o “neurogaps” foi concluído com sucesso e tempo de sobra!

Quer iniciar o seu projeto de autoaprendizagem, mas não sabe por onde começar? Apoiar-se nos ombros de quem aprendeu antes de você é uma excelente opção. 

Comentários

  1. @stephanelimab27 julho, 2022 18:52

    Excelente, Av. Esse é basicamente o princípio da mentoria que ofereço. Consigo que os alunos naveguem melhor no caminho da preparação de seu mestrado porque já passei por isso. Percebo que muitos ficam perdidos e paralisados com tanta informação, mas sem um foco.

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  2. Thaís Brandão27 julho, 2022 19:09

    É impressionante como esse blog tem aberto meus olhos pra coisas que eu nunca tinha pensado em fazer. Tenho dificuldade de focar. Muito obrigada por compartilhar tua experiência conosco, AV

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  3. João Pedro Huppes28 julho, 2022 13:38

    que interessante só tinha visto benchmarking como uma técnica associada á negócios, me tira uma dúvida, onde nos sites dos programas americanos é possível observar e analisar as ementas dos programas?

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