Em 2012, Scott Young encerrou um projeto ambicioso: concluir todas as disciplinas do curso de Ciências da Computação do MIT, com duração de quatro anos, em apenas 12 meses – e sozinho. Entre outubro de 2011 e setembro do ano seguinte, Young assistiu a centenas de horas de aulas gravadas, devorou textos recomendados, construiu projetos sofisticados e resolveu provas cronometradas em casa, "valendo nota". Tudo a partir dos recursos disponibilizados gratuitamente pelo próprio MIT, dono de um dos maiores acervos virtuais de materiais didáticos do mundo, o MIT OpenCourseWare.
O MIT Challenge, como ficou conhecido o projeto, chamou a atenção de muita gente. Young documentou toda a sua jornada em seu site, incluindo as provas que resolveu e os gabaritos que usou. Você também pode conferir – e avaliar – os resultados do canadense, que, até o início da saga, não era mais do que um recém-graduado em business pela Universidade de Manitoba.
Apesar de ser debatível o quanto a experiência de Young realmente se compara com a educação recebida por alunos do MIT, é difícil não se impressionar com os resultados alcançados por ele em apenas 12 meses. O seu "exame final", por exemplo, foi elaborado, avaliado e aprovado por um professor da Georgetown University, uma das melhores dos EUA. Após concluir o desafio, ele também recebeu convites para entrevistas em empresas de tecnologia, inclusive a Microsoft. E em 2019, lançou um ótimo livro sobre aprendizagem com base nas experiências dele e de outros membros de uma comunidade fascinante de autodidatas espalhados pelo mundo.
Um dos pontos que mais me chamaram a atenção na jornada de Young foi o tempo que ele levou "arando o solo" para o desafio. Antes de iniciar o MIT Challenge em outubro, ele gastou seis meses reunindo materiais didáticos, montando um cronograma de estudos e definindo métodos de autoavaliação. Ou seja, se nós considerarmos o projeto do início de sua preparação até o instante em que foi concluído, Young dedicou um terço dele exclusivamente ao planejamento de como poderia aprender mais sobre aquele assunto. Não é pouco.
Aprender sobre como aprender é o que nós chamamos de meta-aprendizagem. Por exemplo, associar o verbo em inglês get a diferentes ações (como "obter" ou "chegar") é aprendizagem. Entender que a forma mais eficiente de memorizar essas associações é imergir noutra cultura e conversar com nativos é meta-aprendizagem. Os resultados do MIT Challenge são um excelente exemplo de como o tempo investido na seleção criteriosa de materiais didáticos e no planejamento de um cronograma eficiente – isto é, meta-aprendizagem – pode ser extremamente recompensador.
Esse tempo, obviamente, não pode ser confundido com procrastinação. Retardar o início de um capítulo para gastar mais horas em busca de um "livro melhor", quando o que se tem em mãos já é o bastante, é procrastinar. Já dedicar dias ou mesmo semanas a pesquisar e se familiarizar com as fontes de informação mais compatíveis com o seu nível de proficiência, além de estruturar uma lista de problemas práticos que sejam capazes de diagnosticar eficientemente o seu progresso, é trocar tempo por resultado. No caso de Young, seis meses por, no mínimo, competências valiosas e propostas de emprego atrativas.
Em breve, escreverei mais sobre estratégias que você pode usar para montar o seu próprio projeto de autoaprendizagem. Até lá, você não precisa ter nada tão ambicioso quanto o MIT Challenge em mente. Aprender um novo idioma, dominar uma linguagem de programação ou se aprofundar num objeto de pesquisa pode ser o seu projeto. O que você precisar ter em mente, porém, é que é possível desenvolver habilidades complexas e extraordinárias por conta própria – basta não se esquecer de "arar o solo" do jeito certo.
Excelente reflexão, Antônio. E como tenho objetivos pela frente, o tema já me chamou atenção de imediato. No aguardo das estratégias. Abraços 👍🏻
ResponderExcluirOi Antônio conheci você com as meninas do PHD. Você consegue me dar umas dicas no particular? @SimoneArcanjo_psi
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